Meu filho não é o melhor da sala, e agora

Meu filho não é o melhor da sala, e agora?

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É verdade que todos nós, mães e pais, queremos o melhor para nossos filhos. Queremos que se alimentem bem, que se relacionem bem, que aprendam bem e que tenham consequentemente um bom desempenho na vida, inclusive em sua trajetória acadêmica. Um filho com excelente desempenho escolar e destaque acadêmico enche seus pais de orgulho, e qual pai ou mãe não se sentiria assim?

Acontece que, em muitas famílias, há uma expectativa, ansiedade e uma pressão excessiva por parte dos pais para que os filhos alcancem a excelência acadêmica. Diversas escolas promovem concursos de desempenho acadêmico, premiando os alunos que atingem melhores pontuações. Muitas vezes os pais se projetam nos filhos, e parece até que são eles os participantes da competição. E em muitos casos é exatamente assim mesmo, muitos pais idealizam seus sonhos, desejos e expectativas nos filhos, buscando muitas vezes realizar algo que não teve a oportunidade de fazer no passado.

Em um mundo que valoriza cada vez mais resultados e que estimula a competitividade desde muito cedo, crianças correm o risco de sofrerem duramente as consequências de viver em um ambiente cercado de excessiva cobrança

 

Eu cobro, tu cobras, eles cobram

Quando se trata de desempenho escolar, são muitas expectativas que o estudante precisa atingir. Sua autocobrança é a primeira delas. Ninguém quer ir mal em uma prova, ter um resultado insuficiente ou repetir de ano. A segunda é a cobrança da escola, que exige uma pontuação mínima a ser alcançada e que oferece incentivos e recompensas para os que alcançam melhores resultados. E a terceira cobrança, e comumente a mais carregada de expectativas, é a dos pais.

A cobrança exagerada dos pais desmotiva e desestabiliza a criança/ adolescente e muitas vezes trará resultados exatamente contrários ao que se busca: o fracasso escolar. No consultório não são incomuns as queixas: meu filho é ótimo, sabe toda a matéria, mas na hora da prova não consegue se sair bem. Excesso de cobrança e pressão também podem explicar este fato.

É preciso ter em mente que essa exigência na infância e adolescência deixa sua marca irreversível no cérebro adulto: a pessoa nunca se acha suficientemente competente, sua autocobrança é tão grande ao ponto da pessoa se limitar a exercer diversas atividades, por não acreditar em sua capacidade.

 

Inteligências Múltiplas

Já ouviu falar em inteligências múltiplas? Trata-se de uma teoria recente, desenvolvida a partir da década de 80 por uma equipe de investigadores da Universidade de Harvard, liderada pelo professor e psicólogo Howard Gardner. A teoria tem impacto direto sobre como enxergamos o sistema educacional, desafiando a ideia de que a inteligência é uma entidade única. Segundo Gardner, existem diferentes formas de processamento de informações e, muito além da inteligência lógico-matemática, pregada pelos tradicionais testes de QI, sabe-se que há outros tipos de inteligência: linguística, musical, espacial, corporal-cinestésica, interpessoal,  intrapessoal e naturalista. Gardner defende que todas as pessoas possuem nativamente todos estes tipos de inteligência, embora alguns deles sejam mais desenvolvidos em algumas pessoas do que em outras.

Não adentraremos mais sobre conceitos de inteligências múltiplas, pois o intuito do artigo não é esse. O importante é refletirmos e compreendermos que indivíduos são diferentes e possuem habilidades consequentemente diferentes. Uma pessoa pode ter habilidades linguísticas invejáveis, enquanto outra terá habilidades poderosíssimas de relacionamento interpessoal e de influenciar pessoas.

 

De pais exigentes a pais parceiros e compreensivos

              Acompanhar e participar da vida escolar dos filhos é papel essencial dos pais, o que precisa mudar é o foco da cobrança. Os pais precisam cobrar o esforço dos filhos e não o resultado numérico representado pelas notas. Quando o estudante se sente confiante, em um ambiente de tranquilidade, de apoio e parceria, enfrenta avaliações de forma mais natural e com mais segurança.

A demanda por excelência pode se manifestar em situações que nem os próprios pais às vezes percebem que estão ultrapassando os limites. Quando há críticas excessivas ao desempenho na escola, mesmo quando o filho apresenta desempenho acima da média, ou comparações constantes com outros alunos, são exemplos de uma exigência não saudável.

O comportamento mais saudável dos pais para estimularem o rendimento escolar dos filhos é um meio-termo entre cobrar, incentivar e apoiar. Para contrabalançar as cobranças, é sempre importante fazer elogios às conquistas do seu filho como estudante. Não se esqueça: não são os resultados que devem ser elogiados, mas sim o esforço para conquistá-los. Da mesma forma, não o censure caso tenha se esforçado e mesmo assim tenha se saído mal. Isso é sinal de que o problema está em outro lugar, não é mesmo? Hora de repensar a estratégia!

 

Fica claro que, como mães, como pais, desejamos que nossos filhos tenham sucesso, mas acima de tudo está a sua felicidade. Ninguém deseja que, por excesso de cobrança, nossos filhos desenvolvam uma depressão ou que sejam tão exigentes com eles mesmos que não saibam o que é se permitir aproveitar, sorrir ou cometer erros.

 

Um abraço e até o próximo tema!

Vanessa Barcelos
Psicopedagoga e mãe da Júlia